Uma história do negro no Brasil
Autor:
Wlamyra Ribeiro de Albuquerque; Walter Fraga Filho; Universidade Federal da Bahia. Centro de Estudos Afro-Orientais.; Fundação Cultural Palmares (Brazil)
Editorial:
[Salvador, Brazil] : Centro de Estudos Afro-Orientais ; [Brasília, Brazil] : Fundação Cultural Palmares, 2006.
Capítulo IX
CULTURA NEGRA E CULTURA NACIONAL:SAMBA, CARNAVAL, CAPOEIRA E CANDOMBLÉ.
As relações entre aqueles que eram vistos como desordeiros e os encarregados pela promoção da ordem eram mesmo bastante dúbias. Capoeiras eram contratados pela polícia como informantes
ou por políticos como capangas, enquanto se multiplicavam nos jornais de várias cidades queixas contra a capoeiragem.
Em Belém do final do século XIX, nomes como Chico Bala e Mão-de-Seda ficaram conhecidos pelos serviços, nem sempre lícitos, que prestava a chefes políticos locais. Por outro lado, na
capital paraense, através dos jornais denunciava-se o território dos capoeiras: o Ver-o-Peso, um mercado público na área portuária da cidade, e o largo de Santana, onde estavam as principais
casas de jogos, as ricas pensões e os clubes de dança. O Pará viveu na Primeira República uma época de prosperidade graças aos lucros com a exportação da borracha da Amazônia.
Pelo porto de Belém eram embarcadas para a Europa Estados Unidos grandes quantidades de látex, e desembarcados produtos europeus como tecidos, jóias, livros e máquinas agrícolas.
Era justamente nessa zona portuária de grande circulação pessoas e riquezas que a capoeiragem era praticada a qualquer do dia e da noite. É certo que ao se exibirem em locais tão movimentados eles contavam com a conivência, ou pelo menos com tolerância da polícia. Principalmente se entre os praticantes houvesse capangas de políticos importantes, que geralmente ficavam impunes apesar das infrações que cometiam. Isso demonstra a repressão dependia das circunstâncias e conveniências. O êxito da economia paraense atraiu para a região amazônica, entre 1890 e 1910, trabalhadores nordestinos e imigrantes europeus, principalmente portugueses. A interação entre esses trabalhadores levou à incorporação pela capoeira paraense de armas próprias às lutas portuguesas, assim como golpes e hábitos dos capoeiristas baianos, cearenses e pernambucanos. No Rio de Janeiro, essa convivência entre negros, imigrantes pobres e migrantes de diversas regiões do país nas ocupações braçais, principalmente na estiva, ampliou, ainda mais, os tipos sociais que praticavam capoeira. Entre os praticantes estavam portugueses, espanhóis e italianos que trabalhavam no porto, operários nordestinos, soldados,
brasileiros brancos e pobres. Não eram apenas os negros que podiam ser facilmente identificados como capoeiras pelo andar gingado, as calças de boca larga e a argolinha de ouro na orelha, sinais de valentia.
http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/uma%20historia%20do%20negro%20no%20brasil_cap09.pdf
Suscribirse a:
Enviar comentarios (Atom)
No hay comentarios:
Publicar un comentario