jueves, 14 de enero de 2010

Revista Brasileira de Ciências Sociais Print version ISSN 0102-6909
Rev. bras. Ci. Soc. vol.21 no.62 São Paulo Oct. 2006
Um forrobodó da raça e da cultura
A confusion of race and culture
Une pagaille de race et de culture
Antonio Herculano Lopes


Quando no final do século XIX o projeto intelectual de criar um teatro nacional "sério" foi derrotado pelo entusiasmo das platéias cariocas com os musicais ligeiros, uma das estratégias de autores e atores para competir com os sofisticados produtos do cancan francês e da opereta austríaca foi a paródia. Curiosamente, aliás, paródia de segundo grau, uma vez que o próprio produto europeu já parodiava burlescamente a cultura clássica. No Brasil, é interessante traçar um paralelo com o processo lingüístico do século XIX, descrito por Raul Pederneiras. Os capoeiras, numa sociedade escravista, estavam numa situação de inferioridade estrutural. Ao imitar a fala dos brancos de classe alta, reafirmavam sua inferioridade, ao mesmo tempo em que adquiriam poder. Não importava que a cópia fosse imperfeita e empobrecida. Num duplo movimento, eles se afirmavam superiores aos seus pares que não dominavam a linguagem dos poderosos, e riam desses últimos em sua pompa e circunstância. Quanto mais o capoeira se esforçasse para imitar a fala de seu patrão, mais intensamente ele expunha o "rei nu".
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000300004&script=sci_arttext

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