viernes, 22 de enero de 2010

“OS CAPOEIRAS” Roteiro Original Carlos Eduardo Goulart


99-INT. SOCIEDADE FRANCESA DE GINÁSTICA, RIO – DIA
Vemos um grupo de homens em trajes de ginástica reunidos conversando.
HOMEM 1
A monarquia já tá caindo do pé... é questão de tempo até o povo tomar o poder e fazer a
república, como na França há 100 anos atrás...
HOMEM 2
O povo... hum... se formos esperar por eles teremos que esperar mais 100 anos... Uma gritaria se faz ouvir do lado de fora. Imediatamente estes homens vão para a janela para ver o que acontece.
100-EXT.FRENTE A SOC. FRANCESA DE GINÁSTICA,RIO – DIA
Sexta Feira está pendurado na bandeira francesa, presa ao mastro, e com uma navalha, tenta cortar o fio que prende esta. Ele por fim consegue, caindo junto com a bandeira.
Os outros comemoram rasgando esta com suas navalhas. Tico Ventura, seu bando, e mais outros armados de paus, forçam a entrada no prédio. Eles por fim entram.
101-INT. HALL/ SOC. FRANC. GINASTICA, RIO – DIA
Vários funcionários de uniforme, armados de paus enfrentam estes. Na linha de frente estão Tico Ventura (com duas navalhas) e seus homens armados também com navalhas. Estes, como
dançarinos, desferem graciosamente os golpes de navalha naqueles homens, que tentam em vão, acertá-los com seus porretes. Logo, o salão é tomado pelos homens da guarda negra.
Após os outros sucumbirem, sobra somente um funcionário, para lutar com todos. Os homens da guarda negra, olham uns para os outros, e urrando correm atrás deste. Ele joga o bastão para o lado e escapa por uma grande porta, fechando esta. Os homens da guarda negra (Tico e seus homens acabam ficando um pouco para trás) abrem as duas portas.
102-INT. OUTRO SALÃO/SOC. FRANC. GINASTICA, RIO - DIA
No entanto, os capoeiras ao entrar se deparam com uma formação de homens armados que imediatamente disparam seus revólveres. Vemos um homem fazendo a mira e o tambor de seu revólver girando e disparando. Sobre o ponto de vista da mira do revólver vemos os integrantes da guarda negra sendo alvejados
(REF.4 – ESTA CENA SERÁ USADA NOVAMENTE MAIS A FRENTE).
Um negro armado com um pedaço de pau toma a frente investindo contra a formação de republicanos entrando na alça de mira do revólver.
NEGRO (GRITANDO)
Viva a princesa...Porém, ele não termina a frase, sendo alvejado duas vezes no peito, antes.
Agora, a alça de mira focaliza Tico Ventura. Vemos o dedo engatilhando e o tambor girando. Ela é disparada, porém só ouvimos um “tec”. A arma é baixada e seu tambor aberto. Ele está vazio de balas. Ele é apressadamente carregado, porém, bala a bala. Ele é fechado, e voltamos ao ponto de vista da alça de mira, que é apontada para onde estava Tico Ventura e os outros navalhistas.
Porém, ele e os integrantes da Guarda Negra não estão mais lá.
103-INT. SOCIEDADE HABITANTES DA LUA, RIO – DIA
Os homens da Guarda Negra (muitos feridos), Tico Ventura, e seu bando, começam a chegar. Clarindo Lopes os recebe com abraços e apertos de mão.
LOBO BRÁS (V.O.)
Aquele fôra o primeiro teste da Guarda Negra. Depois viriam muitos outros... agora, nenhum
ataque a coroa ficaria sem resposta.
http://www.roteirodecinema.com.br/roteiros/capoeiras.pdf


A Guarda Negra: a capoeira no palco da política

Carlos Eugênio Líbano Soares

Em 28 de fevereiro de 1873, logo após a vitória de Duque- Estrada e de sua Flor, e após candentes denúncias da “promis- cuidade” entre políticos e capoeiras, o jornal é vítima de pe-
dras, gritos, tentativa de arrombamento. Um “moleque” sobe na tabuleta do jornal e a pinta de preto. O Governo é acusado de cumplicidade. Por quase toda a década de 1870, o condomínio entre políticos monarquistas e negros capoeiras deu as cartas na Corte Imperial do Rio de Janeiro. Em 1878, a chegada ao poder dos liberais – depois de uma década de ostracismo
– trouxe a primeira campanha policial contra os “capoeiras políticos”, como era denunciado na imprensa. Campanha que não deu em nada. Então, o clima político que propiciou a Guarda Negra es- tava presente 15 anos antes. Dom Pedro II e sua herdeira do trono, Isabel, eram vistos como simpatizantes de causas abolicionistas. Os políticos paulistas, que dominavam o Partido Republicano, eram conhecidos como irados senhores de escravos, que arrancavam crioulos de suas famílias no Nordeste para serem castigados nas senzalas do Vale do Paraíba.
Essa visão não aparecia na época da Guarda por causa de conveniências políticas: para os defensores, era constrangedor filiar-se a movimentos tidos pela imprensa política como autoritários e criminosos, como eram vistos os capoeiras da Flor da Gente da década de 1870. Para os que atacavam, lembrarse dessa fase recente era escapar do contexto da Lei Áurea, que podia trazer sombrias lembranças do passado escravista de alguns políticos “liberais”.
Assim, ambos os formadores de opinião pública da época eram incapazes de compreender a raiz mais profunda que dera origem à Guarda Negra. O primeiro embate envolvendo-a foi o ataque ao comício de Silva Jardim, na Sociedade Francesa de Ginástica, na Rua da Travessa da
Barreira, em 31 de dezembro de 1888. Silva Jardim percorria o País, financiado pelos republicanos, aproveitando-se da súbita impopularidade da monarquia frente às classes
proprietárias, revoltadas com a perda de seus investimentos “semoventes”………............………. Era raro nos informes de polícia a prisão de toda uma malta, até por conta da impunidade de que gozavam graças à ligação com políticos importantes da Corte. Eles foram fichados e os informes de jornais indicavam que seriam recrutados para o Exército – como seus antecessores da década de 1860. Mas, estranhamente, foram todos soltos no dia seguinte. Seus nomes aparecem nas fichas de entrada da Casa de Detenção da Corte, o grande presídio da cidade. Esses mesmos nomes aparecerão, em primeiro de janeiro de 1889, na imprensa – infelizmente as fichas da
Casa de Detenção dessa data foram perdidas para sempre – como asseclas do bando que cercou a Sociedade Francesa no fatídico 31 de dezembro. Fica claro que os dois eventos estão relacionados, assim como a campanha de recrutamento da Guerra do Paraguai tem relação com a politização da da capoeira na década de 1870

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