jueves, 28 de enero de 2010

NELSON LIMA
DANDO CONTA DO RECADO
A dança afro no Rio de Janeiro e as suas influências
Rio de Janeiro
20 de agosto de 2005

3.3.Autos , danças de salão e de performance
O bumba meu boi conta a saga do vaqueiro e boiadeiro através de uma interjeição - “bumba”, como a pancada do boi furioso contra o vaqueiro. Sua dança é teatral ou circense , com o bailarino adornado como boi correndo e imitando o boi. Divide-se nas seguintes partes: apresentação festiva , assassinato , testamento e ressurreição do boi. Concentra-se em São Luís do Maranhão , mas se propaga desde o Pará por todo o interior do Brasil como boibumbá , boi de mamão e outros nomes.
O maxixe como dança de salão é sucessora da polca , que não é brasileira , o próprio nome remetendo à Polônia. Lima Barreto em “Clara dos Anjos” descreve a polca como uma modalidade musical de grande sucesso em festas nos subúrbios cariocas. Somada a polca à rítmica habanera influenciada pelo Lundu do Brasil-Colônia surgiu o maxixe como dança de par com grandes volteios e contorcionismos..
O frevo,originalmente conhecido como dança do passo , é uma dança de origem pernambucana que apresentada à bailarina Eros Volúsia em 1937 é chamada por ela de “a grande dança ginástica do Brasil” tendo-a inspirado a propor um “bailado brasileiro”. Os sofisticados movimentos do frevo são chamados genéricamente de “passos” feitos pelo bailarino descalço segurando um pequeno e colorido guarda-sol . Alguns deles : tesoura , dobradiça , jocotó , urubú malandro , siri sem unha ... A origem desses passos é atribuída ao conjunto de capoeiras que protegia os cordões carnavalescos da multidão e de rivais na primeira década do século.
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ea000104.pdf

martes, 26 de enero de 2010

CAPOEIRA
Publicado na Folha da Noite, sábado, 18 de fevereiro de 1961.
Neste texto foi mantida a grafia original
RUBEM BRAGA

Leio com interesse um livrinho de 1927, editado na Bahia, "Ginastica Nacional", que talvez não seja inutil nestes tempos. O autor chama-se A. Burlamaqui, mais conhecido por Zuma, um belo rapaz que pretende elevar à dignidade do boxe e do jiu-jitsu o nosso jogo da capoeira. Faz o historico dessa luta e explica seu nome pelo fato de ser nas capoeiras do interior que os negros, quando apareciam os soldados para prendê-los, aplicavam esses golpes. A capoeira tem, assim, uma "origem santificada", pois está ligada aos primeiros esforços para a libertação dos escravos no Brasil. Nas fotografias que ilustram o livrinho, os jogadores aparecem de peito nu, calções até os joelhos e botina. O regulamento diz que devem ser usadas botinas, pois sapatos caem do pé no decorrer da luta. Muito humanitariamente, prescreve que as botinas não devem ter botões e sim cordões e não devem ter na sola pregos salientes, nem chapas de metal. O mais que podem levar são barras transversais, ou rosetas de borracha que não salientem mais de cinco milimetros. Os golpes são numerossos, e com eles "poderemos acometer os demonios". A rasteira, com sua variedade "corta-capim"; o "rabo de arraia", com o qual "o nosso Ciriaco venceu o japonês com seu jiu-jitsu"; a cabeçada cujo efeito é "demasiado terrivel"; o "facão", a "banda de frente', o "baú", que é dado com a barriga; o "rapa", a "tesoura", a "queixada', que consiste em um ponta-pé no queixo; o "dourado", o "escorão", em que se simula um recuo para dar um ponta-pé na barriga do sujeito; a "baiana", o "passo de cegonha", o "tombo de ladeira", a "xulipa", a "chincha" ("corre-se para o inimigo como a abraçá-lo, e, agachando-se rapido, puxa-se as pernas dele, abaixo dos joelhos, ajudando-o a cair com uma cabeçada"), o "me esquece", o "voo do morcego" e o "suicidio". Este ultimo é original e terrivel, porque se o inimigo estiver armado de punhal ou faca, suicida-se infalivelmente." O autor até sente escrupulos em contar sua tecnica: "talvez faça mal em descrevê-lo". Felizmente o livrinho ensina tambem os contra-golpes, alguns violentos. E, para finalizar, ensina os chamados "golpes de tapeação", como a pisadela no pé do adversario, o olhar falso, o gesto de fingir que se vai tirar com o pé qualquer coisa do chão, para que o adversario se descuide um instante. E ainda este golpe, evidentemente pouco elegante, "finge-se que se vai cuspir no adversario, fazendo-o fechar os olhos e aí aproveita-se a occasião dando-lhe o merecido castigo." Nas gravuras, os jogadores aparecem não apenas de botinas como de meias e ligas, o que tambem não me parece muito elegante. Mas nem a capoeira, nem a politica são, afinal de contas, coisas de muita elegancia.
http://almanaque.folha.uol.com.br/rubembraga2.htm
EDUCAÇÃO FÍSICA E REORDENAMENTO NO MUNDO DO TRABALHO:
Mediações da regulamentação da profissão
Por Hajime Takeuchi Nozaki
sob a orientação do Prof. Dr. Gaudêncio Frigotto
Niterói-Maio de 2004

Assim sendo, além da sua mercantilização, um processo que mediou a capoeira, enquanto conformação ao capitalismo avançado, foi o da sua desportivização. É possível que um dos aspectos determinantes para a identificação desta prática enquanto conteúdo desportivo seja a sua reformulação, a partir da década de 30, sustentada por um interesse do Estado brasileiro em legitimar práticas que compactuassem com seus ideais higienista, eugenista, militarista e nacionalista (Mello, op. cit.; Reis, op. cit.)321. Assim, a capoeira modificou sua prática e seu ensino, geralmente marginais, para uma sistematização realizada em recintos fechados e ministrada por professores ou mestres que a ensinavam utilizando-se de metodologias criadas por si próprios ou adaptadas de modalidades desportivas. Neste ponto, Mestre Bimba tem fundamental importância por ter criado a capoeira regional, com elementos provenientes da escola, tais como a formatura. Já os angoleiros, cuja expressão representativa era o Mestre Pastinha, buscavam preservar as tradições daquela manifestação, porém adaptando-a para a legalidade, ou seja, retirando-a de ações marginais tais como a briga de rua, valentia, entre outras (ibid.; Silva, op. cit.).
Mais à frente, na década de 70, outro aspecto determinante foi a elaboração de um regulamento técnico para competições322 e a incorporação da capoeira à Confederação Brasileira de Pugilismo, em 1º de janeiro de 1973. Já a Confederação Brasileira de Capoeira surgiu em 23 de outubro de 1992 (Bogado, op. cit.; Falcão, 1998)323. Os defensores da desportivização da capoeira partiram de dois argumentos centrais. O primeiro deles era ligado à defesa da normatização desportiva da capoeira, tendo em vista que ela seria o único esporte genuinamente nacional. Já o segundo, se baseava na própria preocupação de sistematização das suas técnicas, com o intento de afastar o surgimento de capoeiras que não respeitassem a tradição da área. Neste ponto, é ilustradora a declaração do professor Carlos Senna, estudioso da área324, por ocasião da aprovação do primeiro regulamento técnico da capoeira, no Conselho Nacional de Desportos, em maio de 1973:
“Devemos criar de imediato um método de ensino único para a prática e o estudo da capoeira. Esse método, ou melhor, os ensinamentos devem ser um só para todos aqueles que se dedicam ao ensino da capoeira, a fim de evitar a proliferação de falsos professores que ficam inventando moda e com isso prejudicando sensivelmente o respeito [à] capoeira” (apud Pessoa, 1973, [s/p]).
É possível perceber, como no caso do yoga, a preocupação em resguardar a área dos praticantes mal intencionados e que não respeitariam a sua tradição. A solução apontada para tal impasse, à época, foi a desportivização da capoeira325. Não obstante, tal desportivização veio acompanhada justamente da descaractrização da área, na proporção em que transformou a capoeira em mercadoria, além de inibir a sua diversidade de manifestação, recebendo várias críticas:
“O que se questiona em relação a essas tentativas de padronização da capoeira dentro dos contornos do esporte de rendimento, é se elas não estariam negando a pluraridade dessa manifestação cultural, bem como os seus valores sócio-históricos e culturais arquivados em seus rituais cantos e gestos” (Falcão, op. cit., p.325).
http://www.uff.br/pos_educacao/joomla/images/stories/Teses/hajime.pdf

domingo, 24 de enero de 2010

Sería el abuelo de Alfredo el primer capoeira? (Joao Moreira)

Nota de pesquisador: Alfredo Moreira jefe de capoeiras era nieto del portugués Capitán Joao Moreira de Carvalho,padre del Barón de Penedo.
O povo do Rio de Janeiro:bestializados ou bilontras?*
José Murilo de Carvalho
Capoeiras e capangas eram tradicionalmente usados também por políticos e poderosos em geral como instrumentos de justiça privada. Muitos capoeiras integraram a Guarda Negra que dispersava comícios republicanos. A própria polícia fazia uso deles como agentes provocadores ou informantes. O conúbio ia além da política. Diferentemente do que se pensa, por exemplo, havia entre os capoeiras muitos brancos e até mesmo estrangeiros. Em abril de 1890, ainda em plena campanha de Sampaio Ferraz contra os capoeiras, foram presas 28 pessoas sob a acusação de capoeiragem. Destas, apenas cinco eram pretas. Havia dez brancos, dos quais sete estrangeiros, inclusive um chileno e um francês. Era comum aparecerem portugueses e italianos entre os presos por capoeiragem. E não só brancos pobres e estrangeiros se envolviam na capoeiragem. A fina flor da elite da época também o fazia. Neste mesmo mês de abril de 1890, foi preso como capoeira José Elísio dos Reis, filho do Conde de Matosinhos, uma das mais importantes personalidades da colônia portuguesa, irmão do Visconde de Matosinhos, proprietário do jornal O Paiz. Como é sabido, a prisão quase gerou uma crise ministerial, pois o redator do jornal era
Quintino Bocaiúva, ministro e um dos principais propagandistas da República. Outro caso
famoso era o de Alfredo Moreira, filho do Barão de Penedo, embaixador quase vitalício do Brasil em Londres, onde gozava do convívio com os Rothschild. Segundo o embaixador francês no Rio, Alfredo era “um dos chefes ocultos dos capoeiras e cabeça conhecido de todos os tumultos”. O representante inglês informava em 1886 que José Elísio e Alfredo Moreira eram vistos diariamente na rua do Ouvidor, a Carnaby Street do Rio, em conversas com a jeunesse dorée da cidade”.
http://www.forumrio.uerj.br/documentos/revista_8/008_101.pdf

viernes, 22 de enero de 2010

Lucta “Puccetti-Ghedini” - Do campeão brasileiro e director do Club “Força e Coragem” de S. Paulo


Há Um Século

16 de agosto de 1907, sexta-feira(A coleção não possui exemplar desta data. Notícia de 17/08/07)
Lucta Romana - Do campeão Julio Ghedini recebemos a seguinte carta: “Sr. redactor d’A Cidade De muita boa vontade me permitto responde hoje ao sr. Pedro Puccetti (campeão brasileiro), do club ‘Força e Coragem’(SP) no que se refere ao ‘Desafio’ que o sr. Eugenio Boilau, de modo proprio, lançou em meu nome, ao dito campeão brasileiro. Leia esta notícia na integra http://www.jornalacidade.com.br/noticias/57766/ha-um-seculo.html
Lucta “Puccetti-Ghedini” - Do campeão brasileiro e director do Club “Força e Coragem” de S. Paulo, sr. Pedro Puccetti, recebemos hontem á as 2 horas da tarde o telegramma seguinte, que afixamos a porta da redacção: “Se o professor Giulio Ghedini acceitar as condicções que expuz na secção livre ‘A Cidade de sabbado 14 do corrente, ponha-se a minha disposição, sexta-feira ou sabbado 21, no theatro Carlos Gomes, e telegraphe-me afim de seguir immediatamente”. Puccetti. Leia esta notícia na integra http://www.jornalacidade.com.br/noticias/58878/ha-um-seculo.html
NOTA DEL PESQUISADOR:
O historiador e folclorista Carlos Cavalheiro ressaltou a importância de se aprofundar pesquisa sobre a vida de Sinhozinho, ainda, em Santos e São Paulo capital. É sabido, por entrevista datada de 1º de Setembro de 1931 (Diário de Notícias, RJ. Foto), prestada pelo próprio Sinhozinho(17 anhos), que ele, no ano de 1907, ingressou no Club Força e Coragem, sob a direção de Pedro Pucceti. Também temos informações de que familiares de Sinhô remanesceram em São Paulo, mais precisamente na Mooca.
livro “A Volta do Mundo da Capoeira”, de LOPES (1999):
“Por volta da década de cinqüenta, Sinhozinho era um personagem muito conhecido no Rio de Janeiro, especialmente em Ipanema e Copacabana. Nascido em Santos, São Paulo, filho do Cel. José Moreira Sampaio, Intendente daquela cidade, já em 1904, Sinhô iniciava sua brilhante carreira de desportista, como sócio-aluno do Clube Esperia de São Paulo. Ainda em São Paulo, após passar pelo Clube Atlético Paulistano, pela Associação Atlética das Palmeiras, e pelo Clube Força e Coragem, Agenor Sampaio veio para o Rio e não mais saiu. [...]. Logo se tornou conhecido nas rodas esportivas e boêmias da cidade por sua força física e habilidades atléticas, tendo sido instrutor da temida Polícia Especial e, mais tarde, da Polícia Municipal, assim como de inúmeras
associações esportivas como Sport Club Mangueira, Ginástico Português, Clube de Regatas do Flamengo, Helênico, Fluminense, América F.C. e várias outras entidades desportivas, valendo destacar o Club Nacional de Gymnastica, criado por ele mesmo, em 1930, para divulgar a Capoeira. [...]. Não se sabe muito bem como e onde Sinhozinho a aprendeu mas já nos anos trinta ensinava [...].Segundo o que ensinava, os capoeiras de sua época tinham suas especialidades,
sendo mais brigadores do que esportistas. Usando de malícia, faziam ataques súbitos e inesperados, procurando colocar os adversários, rapidamente, fora de combate. [...]. Sua capoeira, destituída de ‘orquestra’ – berimbaus, pandeiros, atabaque, agogô e reco-reco, e cânticos – que sempre foi a mola propulsora dos demais tipos de Capoeira, exigia de seus praticantes o máximo de objetividade e resistência a pancadas e a lesões, o que fazia com que muitos iniciantes desistissem. Isto talvez explique porque sua difusão tenha sido limitada
enquanto outras formas da capoeira, normalmente com ritmo e canto,começaram a lograr mais sucesso e, atualmente, estejam tomando conta do Brasil e do mundo.”
(p. 25 - 26)

“OS CAPOEIRAS” Roteiro Original Carlos Eduardo Goulart


99-INT. SOCIEDADE FRANCESA DE GINÁSTICA, RIO – DIA
Vemos um grupo de homens em trajes de ginástica reunidos conversando.
HOMEM 1
A monarquia já tá caindo do pé... é questão de tempo até o povo tomar o poder e fazer a
república, como na França há 100 anos atrás...
HOMEM 2
O povo... hum... se formos esperar por eles teremos que esperar mais 100 anos... Uma gritaria se faz ouvir do lado de fora. Imediatamente estes homens vão para a janela para ver o que acontece.
100-EXT.FRENTE A SOC. FRANCESA DE GINÁSTICA,RIO – DIA
Sexta Feira está pendurado na bandeira francesa, presa ao mastro, e com uma navalha, tenta cortar o fio que prende esta. Ele por fim consegue, caindo junto com a bandeira.
Os outros comemoram rasgando esta com suas navalhas. Tico Ventura, seu bando, e mais outros armados de paus, forçam a entrada no prédio. Eles por fim entram.
101-INT. HALL/ SOC. FRANC. GINASTICA, RIO – DIA
Vários funcionários de uniforme, armados de paus enfrentam estes. Na linha de frente estão Tico Ventura (com duas navalhas) e seus homens armados também com navalhas. Estes, como
dançarinos, desferem graciosamente os golpes de navalha naqueles homens, que tentam em vão, acertá-los com seus porretes. Logo, o salão é tomado pelos homens da guarda negra.
Após os outros sucumbirem, sobra somente um funcionário, para lutar com todos. Os homens da guarda negra, olham uns para os outros, e urrando correm atrás deste. Ele joga o bastão para o lado e escapa por uma grande porta, fechando esta. Os homens da guarda negra (Tico e seus homens acabam ficando um pouco para trás) abrem as duas portas.
102-INT. OUTRO SALÃO/SOC. FRANC. GINASTICA, RIO - DIA
No entanto, os capoeiras ao entrar se deparam com uma formação de homens armados que imediatamente disparam seus revólveres. Vemos um homem fazendo a mira e o tambor de seu revólver girando e disparando. Sobre o ponto de vista da mira do revólver vemos os integrantes da guarda negra sendo alvejados
(REF.4 – ESTA CENA SERÁ USADA NOVAMENTE MAIS A FRENTE).
Um negro armado com um pedaço de pau toma a frente investindo contra a formação de republicanos entrando na alça de mira do revólver.
NEGRO (GRITANDO)
Viva a princesa...Porém, ele não termina a frase, sendo alvejado duas vezes no peito, antes.
Agora, a alça de mira focaliza Tico Ventura. Vemos o dedo engatilhando e o tambor girando. Ela é disparada, porém só ouvimos um “tec”. A arma é baixada e seu tambor aberto. Ele está vazio de balas. Ele é apressadamente carregado, porém, bala a bala. Ele é fechado, e voltamos ao ponto de vista da alça de mira, que é apontada para onde estava Tico Ventura e os outros navalhistas.
Porém, ele e os integrantes da Guarda Negra não estão mais lá.
103-INT. SOCIEDADE HABITANTES DA LUA, RIO – DIA
Os homens da Guarda Negra (muitos feridos), Tico Ventura, e seu bando, começam a chegar. Clarindo Lopes os recebe com abraços e apertos de mão.
LOBO BRÁS (V.O.)
Aquele fôra o primeiro teste da Guarda Negra. Depois viriam muitos outros... agora, nenhum
ataque a coroa ficaria sem resposta.
http://www.roteirodecinema.com.br/roteiros/capoeiras.pdf


A Guarda Negra: a capoeira no palco da política

Carlos Eugênio Líbano Soares

Em 28 de fevereiro de 1873, logo após a vitória de Duque- Estrada e de sua Flor, e após candentes denúncias da “promis- cuidade” entre políticos e capoeiras, o jornal é vítima de pe-
dras, gritos, tentativa de arrombamento. Um “moleque” sobe na tabuleta do jornal e a pinta de preto. O Governo é acusado de cumplicidade. Por quase toda a década de 1870, o condomínio entre políticos monarquistas e negros capoeiras deu as cartas na Corte Imperial do Rio de Janeiro. Em 1878, a chegada ao poder dos liberais – depois de uma década de ostracismo
– trouxe a primeira campanha policial contra os “capoeiras políticos”, como era denunciado na imprensa. Campanha que não deu em nada. Então, o clima político que propiciou a Guarda Negra es- tava presente 15 anos antes. Dom Pedro II e sua herdeira do trono, Isabel, eram vistos como simpatizantes de causas abolicionistas. Os políticos paulistas, que dominavam o Partido Republicano, eram conhecidos como irados senhores de escravos, que arrancavam crioulos de suas famílias no Nordeste para serem castigados nas senzalas do Vale do Paraíba.
Essa visão não aparecia na época da Guarda por causa de conveniências políticas: para os defensores, era constrangedor filiar-se a movimentos tidos pela imprensa política como autoritários e criminosos, como eram vistos os capoeiras da Flor da Gente da década de 1870. Para os que atacavam, lembrarse dessa fase recente era escapar do contexto da Lei Áurea, que podia trazer sombrias lembranças do passado escravista de alguns políticos “liberais”.
Assim, ambos os formadores de opinião pública da época eram incapazes de compreender a raiz mais profunda que dera origem à Guarda Negra. O primeiro embate envolvendo-a foi o ataque ao comício de Silva Jardim, na Sociedade Francesa de Ginástica, na Rua da Travessa da
Barreira, em 31 de dezembro de 1888. Silva Jardim percorria o País, financiado pelos republicanos, aproveitando-se da súbita impopularidade da monarquia frente às classes
proprietárias, revoltadas com a perda de seus investimentos “semoventes”………............………. Era raro nos informes de polícia a prisão de toda uma malta, até por conta da impunidade de que gozavam graças à ligação com políticos importantes da Corte. Eles foram fichados e os informes de jornais indicavam que seriam recrutados para o Exército – como seus antecessores da década de 1860. Mas, estranhamente, foram todos soltos no dia seguinte. Seus nomes aparecem nas fichas de entrada da Casa de Detenção da Corte, o grande presídio da cidade. Esses mesmos nomes aparecerão, em primeiro de janeiro de 1889, na imprensa – infelizmente as fichas da
Casa de Detenção dessa data foram perdidas para sempre – como asseclas do bando que cercou a Sociedade Francesa no fatídico 31 de dezembro. Fica claro que os dois eventos estão relacionados, assim como a campanha de recrutamento da Guerra do Paraguai tem relação com a politização da da capoeira na década de 1870

jueves, 21 de enero de 2010

Uma história do negro no Brasil

Uma história do negro no Brasil
Autor:
Wlamyra Ribeiro de Albuquerque; Walter Fraga Filho; Universidade Federal da Bahia. Centro de Estudos Afro-Orientais.; Fundação Cultural Palmares (Brazil)
Editorial:
[Salvador, Brazil] : Centro de Estudos Afro-Orientais ; [Brasília, Brazil] : Fundação Cultural Palmares, 2006.
Capítulo IX
CULTURA NEGRA E CULTURA NACIONAL:SAMBA, CARNAVAL, CAPOEIRA E CANDOMBLÉ.

As relações entre aqueles que eram vistos como desordeiros e os encarregados pela promoção da ordem eram mesmo bastante dúbias. Capoeiras eram contratados pela polícia como informantes
ou por políticos como capangas, enquanto se multiplicavam nos jornais de várias cidades queixas contra a capoeiragem.
Em Belém do final do século XIX, nomes como Chico Bala e Mão-de-Seda ficaram conhecidos pelos serviços, nem sempre lícitos, que prestava a chefes políticos locais. Por outro lado, na
capital paraense, através dos jornais denunciava-se o território dos capoeiras: o Ver-o-Peso, um mercado público na área portuária da cidade, e o largo de Santana, onde estavam as principais
casas de jogos, as ricas pensões e os clubes de dança. O Pará viveu na Primeira República uma época de prosperidade graças aos lucros com a exportação da borracha da Amazônia.
Pelo porto de Belém eram embarcadas para a Europa Estados Unidos grandes quantidades de látex, e desembarcados produtos europeus como tecidos, jóias, livros e máquinas agrícolas.
Era justamente nessa zona portuária de grande circulação pessoas e riquezas que a capoeiragem era praticada a qualquer do dia e da noite. É certo que ao se exibirem em locais tão movimentados eles contavam com a conivência, ou pelo menos com tolerância da polícia. Principalmente se entre os praticantes houvesse capangas de políticos importantes, que geralmente ficavam impunes apesar das infrações que cometiam. Isso demonstra a repressão dependia das circunstâncias e conveniências. O êxito da economia paraense atraiu para a região amazônica, entre 1890 e 1910, trabalhadores nordestinos e imigrantes europeus, principalmente portugueses. A interação entre esses trabalhadores levou à incorporação pela capoeira paraense de armas próprias às lutas portuguesas, assim como golpes e hábitos dos capoeiristas baianos, cearenses e pernambucanos. No Rio de Janeiro, essa convivência entre negros, imigrantes pobres e migrantes de diversas regiões do país nas ocupações braçais, principalmente na estiva, ampliou, ainda mais, os tipos sociais que praticavam capoeira. Entre os praticantes estavam portugueses, espanhóis e italianos que trabalhavam no porto, operários nordestinos, soldados,
brasileiros brancos e pobres. Não eram apenas os negros que podiam ser facilmente identificados como capoeiras pelo andar gingado, as calças de boca larga e a argolinha de ouro na orelha, sinais de valentia.
http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/uma%20historia%20do%20negro%20no%20brasil_cap09.pdf
recorte del libro: A Academia de São Paulo; tradições e reminiscencias, estudantes, estudantões, estudantadas (1907)
Author: Nogueira, Almeida, 1850-1914Subject: Faculdade de Direito (São Paulo, Brazil); LawyersPublisher: São Paulo [Typographia Vanorden & Co.]Year: 1907


De acordo com Blake (1889), Luiz Joaquim Duque-Estrada Teixeira formou-se em Direito pela Faculdade de São Paulo, voltando para a Corte em 1859, sendo sempre advogado. Filiou-se em 1863 ao Partido Conservador, “sendo um dos mais firmes baluartes deste partido, que também o distinguiu, elegendo-se Juiz de Paz de sua Freguezia, a da Gloria, desde 1864 a 1878”. Como já mencionado, foi mais de uma vez deputado provincial, e deputado geral em quatro legislaturas desde 1868. Colaborou também na Revista do Atheneu Paulistano, na Revista de Educação e Ensino, e em várias folhas políticas.Nascido em 06.06.1836, no Rio de Janeiro, onde faleceu em 09.09.1884, às 16:30, na rua do Aqueduto, em Santa Teresa




Page n195 - � Os capoeiras do Duque Estrada. —
Page n217 - jogo da capoeira, eic elle mn babil atirador e conhecia
Page n219 - estava a capoeira muito em honra entre os estudantes.
Page n220 - jogo da capoeira. Querem nm exemplo de um desses preceitos
Page n221 - exercidos da capoeiragem, como, ao contrario, os incitava
Page n222 - nalgum afamado capoeira adverso á sua gente.

Em 1897, o general Couto de Magalhães disse que a capoeira não deveria ser perseguida mais sim dominada e ensinada em escolas militares

El General José Viera Couto de Magalhães, (Diamantina, 1 de noviembre de 1837 — Rio de Janeiro, 14 de septiembre de 1898) perteneció a los cuadros político, intelectuales y empresariales del Imperio de Brasil. En su Viagem ao rio Araguaya, río Araguaia en el Estado de Goyaz o Goiás, Brasil. Fue político, militar, escritor e folclorista brasilero.
Inicio sus estudios en el Seminario de Mariana. Estudió matemáticas en la Academia Militar de Río de Janeiro y frecuentó un curso de Artillería de Campaña en Londres. Bachiller de la facultad de Derecho de São Paulo, en 1859, se doctoró en Derecho en 1860.

miércoles, 20 de enero de 2010

Associações operárias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-1930)


NOTA DEL PESQUISADORCursiva: Couto Magalhaes ,habría financiado una escuela de capoeiragem en Sao Paulo( ver link). En el artículo de más abajo ponemos observar como Couto estaba cerca de los abolicionistas y sociedaes de hombres negros; debemos recordar que la S.D.F. Uniao de Juventude en 1920 dejó de practicar capoeira en sus instalaciónes por miedo. Em 1897, o general Couto de Magalhães disse que a capoeira não deveria ser perseguida mais sim dominada e ensinada em escolas militares. Em 1893 o governo de Floriano Peixoto mandou prendê-lo por ter doado parte de sua fortuna para a fundação de um hospital destinado aos revoltosos da armada e do Rio Grande do Sul. Na prisão, sua saúde se debilitou e lhe foi facultado ir para a Europa, para tratamento e em reconhecimento ao seu alto saber. Volta aos 61 anos e falece aos 14 de setembro de 1898. Dois anos antes, (1896), tornara-se proprietário das terras do Sítio do Itaí.
http://eu-bras.blogspot.com/2010/01/os-capoeiras-do-duque-extrada.html

Associações operárias mutualistas e recreativas em Campinas (1906-1930)
Sociedade Beneficente Isabel, a Redentora, associação formada por ferroviários que pretendiam homenagear a figura monárquica considerada responsável pela libertação dos escravos. A diretoria apresentava tendências monarquistas, construindo relações próximas com o cônsul português, e objetivando enviar seus estatutos para a própria princesa Isabel, através do Dr Couto de Magalhães, diretor d’O Comércio de São Paulo.
Outro tipo de identidade construída entre os trabalhadores negros estava presente no funcionamento da Liga Humanitária dos Homens de Cor, na Sociedade Dançante Familiar União da Juventude, na Federação Paulista dos Homens de Cor, no Colégio São Benedito. Nessas organizações havia a “luta pelo engrandecimento da raça”, principalmente através da educação, da construção de uma imagem que valorizasse o negro, distanciando-o das bebidas alcoólicas, das situações consideradas imorais, da pobreza e miséria. A Federação Paulista dos Homens de Cor organizou diversas recepções ao deputado Monteiro Lopes, mobilizando as associações negras em Campinas. Além disso, declarava a apoio a determinados candidatos políticos durante as eleições. Desse modo, essa organização criava uma imagem da potencialidade da cidadania negra em Campinas através da alfabetização e da participação política, elegendo candidatos que
pudessem garantir a inserção dos negros na sociedade. Esse aspecto político da atuação negra, em Campinas, resultou na organização da Frente Negra em 1931. No jornal Diário do Povo, de 13 de maio de 1984, um artigo sobre as comemorações da data ressalta o papel da Frente Negra em Campinas, que se reunia clandestinamente na sede da Sociedade Dançante Familiar União da Juventude. José Alberto Ferreira, advogado e escrivão aposentado, foi entrevista por ter feito parte da Frente Negra e da Liga Humanitária dos Homens de Cor..................................................

Outra denúncia foi feita em dezembro de 1907, descrevendo os “vagabundos” como pessoas que “incomodam e ofendem, porque tais indivíduos timbram em repudiar a moral”, cobrando um posicionamento dos policiais para evitar tais incômodos. Em 20 de dezembro de 1910, o jornal A Cidade de Campinas, relatou que todas as noites se reuniam nos botequins da rua Conceição, no trecho entre as ruas Francisco Glicério e Barão de Jaguará, “uma malta de pretos vagabundos” que se embriagavam, cometiam balbúrdias e cenas escandalosas, impedindo que senhoras passassem no trecho, além de promoverem provocação e pequenas desordens.
Ontem, à noite, dois pretos divertiam-se em frente a um dos botequins daquele trecho no jogo de ‘capoeiragem’ provocando o ajuntamento de desocupados e impedindo o trânsito. Dois policiais, avisados do ocorrido efetuaram a prisão dos capoeiras levando-os para o xilindró onde pernoitaram. Convém que o trecho referido seja policiado rigorosamente para se evitar cenas dessa natureza.
Há duas distinções feitas na imprensa para as pessoas que praticavam atos considerados imorais pela sociedade campineira – os “vagabundos” e os “pretos vagabundos”. Portanto, uma preocupação comum a todas as associações recreativas operárias que ofereciam bailes e festivais era determinar um horário que permitisse que “mulheres honradas” freqüentassem os eventos. Isso indica que o período noturno na cidade era compreendido pela sociedade, em geral, como uma ameaça, um momento que exigia constante fiscalização e atuação enérgica policial. Portanto, a criação de associações recreativas pelos trabalhadores driblava esse estereótipo e possibilitava
vincular uma imagem digna aos associados, pois praticavam o lazer em horários e locais considerados adequados. Outro aspecto comum as associações operárias recreativas era eliminar as associadas que tivessem comportamento moral duvidoso, reforçando a afirmação de que as associações dialogavam com as imagens e valores morais tidos como corretos pela sociedade.
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000408685

martes, 19 de enero de 2010

1964-Lamartine P. da Costa habla de la organización deportiva de la Capoeira

Lamartine
http://www.revistadeeducacaofisica.com.br/artigos/1964/capoeira.pdf
Título Capoeiragem: a arte da defesa pessoal brasileira
Autor Lamartine Pereira da Costa
Editor Selbstverl., 1961
Procedencia del original Universidad de Texas
Digitalizado 16 Feb 2008
N.º de páginas 63 páginas

jueves, 14 de enero de 2010

Revista Brasileira de Ciências Sociais Print version ISSN 0102-6909
Rev. bras. Ci. Soc. vol.21 no.62 São Paulo Oct. 2006
Um forrobodó da raça e da cultura
A confusion of race and culture
Une pagaille de race et de culture
Antonio Herculano Lopes


Quando no final do século XIX o projeto intelectual de criar um teatro nacional "sério" foi derrotado pelo entusiasmo das platéias cariocas com os musicais ligeiros, uma das estratégias de autores e atores para competir com os sofisticados produtos do cancan francês e da opereta austríaca foi a paródia. Curiosamente, aliás, paródia de segundo grau, uma vez que o próprio produto europeu já parodiava burlescamente a cultura clássica. No Brasil, é interessante traçar um paralelo com o processo lingüístico do século XIX, descrito por Raul Pederneiras. Os capoeiras, numa sociedade escravista, estavam numa situação de inferioridade estrutural. Ao imitar a fala dos brancos de classe alta, reafirmavam sua inferioridade, ao mesmo tempo em que adquiriam poder. Não importava que a cópia fosse imperfeita e empobrecida. Num duplo movimento, eles se afirmavam superiores aos seus pares que não dominavam a linguagem dos poderosos, e riam desses últimos em sua pompa e circunstância. Quanto mais o capoeira se esforçasse para imitar a fala de seu patrão, mais intensamente ele expunha o "rei nu".
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092006000300004&script=sci_arttext

martes, 12 de enero de 2010

ESPORTE PROLETÁRIO:UMA LEITURA DA IMPRENSA OPERÁRIA BRASILEIRA (1928-1935)

Em São Paulo, por exemplo, a partir das primeiras décadas do século XX, observou-se um processo de reordenamento urbano associado aos novos significados atribuídos ao corpo e às relações sociais. Mas foi a partir dos anos de 1920 que esse conjunto de reformas urbanas provocou, como diz a autora, uma sensação de estranhamento diante do crescimento virtuoso da urbe, de medo e fantasia diante das novas formas de trabalho, circulação, convivência e diversão, bem como de desespero em face das contradições sociais e dos contrastes urbanos que envolveram toda a população, colocando a cidade de São Paulo sob os códigos da nova ideologia,
representada como ícone dos novos estatutos simbólicos e culturais. 75 Soma-se a isso o discurso médico associado à propaganda da escola como instâncias capazes de disciplinar e orientar as atividades de diversão. Assim sendo, não poderiam deixar de incluir as modernas e educativas práticas da recreação, representando

[...] não só uma preocupação com os usos "ilícitos" do tempo livre, mas também a intervenção sobre o ócio e a alteração dos hábitos e tipos de divertimentos tradicionais. A ociosidade, entendida como produtora da violência, da criminalidade, da capoeiragem, da vagabundagem, dos vícios, das doenças e das epidemias, seria a principal atividade do cotidiano familiar a ser questionada, enquadrada e combatida. A orientação pedagógica contida nas atividades de recreação desenvolvidas na escola visava disciplinar o corpo no sentido de que, notempo livre, não se flexibilizasse com a preguiça nem com o desconforto físico.76

Nesse contexto, a educação e as práticas corporais, na forma de atividades físicas, esportes ou recreação, cumpriram uma finalidade pedagógica de orientar o cotidiano dos trabalhadores e suas famílias. Essa é uma posição muito próxima à de Carmen Soares, quando a autora se expressa sobre a relação entre o pensamento médico higienista e a educação física, destacando o papel desta na ordenação do meio urbano:
http://www.tede.ufsc.br/teses/PEED0626-D.pdf

O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis 1763 – 1808

Obra escrita por um dos melhores historiadores e memorialistas do Rio de Janeiro. Autor igualmente de O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis e A Corte de D. João no Rio de Janeiro, sua atividade de literato acumulava-se com a de jornalista. A respeito dessa obra, lê-se no prefácio: O Rio de Janeiro do meu Tempo foi sua obra mais conhecida. Nela, Luís Edmundo extravasou o seu imenso amor por sua cidade, contando as histórias e falando dos ambientes por ele vividos na virada do século, em sua dupla condição de participante e testemunha." Esse livro compõe o mais rico painel jamais feito sobre o Rio de Janeiro.
Nota del pesquisador: 1770-Joao Moreira primer Capoeira conocido
RIO de Janeiro( 1763 – 1808)
De volta, pelo caminho que vai à Vala, penetremos a Rua dos Ourives, das de maior concorrência da cidade. À porta do estanco de tabaco está um homem diante de um frade nédio e rubicundo. Mostra um capote vasto de mil dobras, onde a sua figura escanifrada mergulha e desaparece, deixando ver apenas, de fora, além de dois canelos finos de ave pernalta, uma vasta, uma hirsuta cabeleira, onde naufraga em ondas tumultuosas alto feltro espanhol. Fala forte. Gargalha. Cheira a aguardente e discute. É o capoeira. Sem ter do negro a compleição atlética ou sequer o ar rijo e sadio do reinol, é, no entanto, um ser que toda gente teme e o próprio quadrilheiro da justiça, por cautela, respeita.
Encarna o espírito da aventura, da malandragem e da fraude; é sereno e arrojado, e na hora da refrega ou da contenda, antes de pensar na choupa ou na navalha, sempre ao manto cosida, vale-se de sua esplêndida destreza, com ela confundindo e vencendo os mais armados e fortes contendores. Nessa hora o homem franzino e leve transfigura-se. Atira longe o seu feltro chamorro, seu manto de saragoça e aos saltos, como um símio, como um gato, corre, recua, avança e rodopia, ágil, astuto, cauto e decidido. Nesse manejo inopinado e célere, a criatura é um ser que não se toca, ou não se pega, um fluido, o imponderável. Pensamento. Relâmpago. Surge e desaparece. Mostra-se de novo e logo se tresmalha. Toda a sua força reside nessa destreza elástica que assombra, e diante da qual o tardo europeu vacila e, atônito, o africano se trastroca. Embora na hora da luta traga ele, entre a dentuça podre, o ferro da hora extrema, é da cabeça, braço, mão, perna ou pé que se vale para abater o êmulo minaz. Com a cabeça em meio aos pulos em que anda, atira a cabezada sobre o ventre daquele com quem luta e o derruba. Com a perna lança a trave, o calço. A mão joga a tapona, e com o pé a rasteira, o pião e ainda o rabo-de-arraia. Tudo isso numa coreografia de gestos que confunde. Luta com dois, com três, e, até com quatro ou cinco. E os vence a todos. Quando os quadrilheiros chegam com as suas lanças e os seus gritos de justiça, sobre o campo da luta nem traço mais se vê do capoeira feroz que se fez nuvem, fumaça e desapareceu. Na hora da paz ama a música, a docuça sensual do brejeiro lundu, dança a fofa, a chocaina, e o sarambeque pelos lugares onde haja vinho, jogo, fumo e mulatas. Freqüenta os pátios das tabernas, os antros da maruja para os lados do Arsenal. Usa e abusa da moral da ralé, moral oblíqua, reclamando pelourinho, degredo, e, às vezes, forca.
http://www.senado.gov.br/web/cegraf/conselho/pdf/O%20Rio%20de%20Janeiro%20do%20Meu%20Tempo/aber_meutempo.pdf

lunes, 11 de enero de 2010



CAPÍTULO I
O ESPORTE E A EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL ANTES DA CRIAÇÃO DA
EsEFEx
Primórdios do Esporte no Brasil
Em 1929, sete anos após o fechamento do CMEF, ocorreu uma visita do Presidente da República Dr. Washington Luís, à Escola de Sargentos de Infantaria, acompanhado pelo Ministro da Guerra, Gen. Nestor Sezefredo dos Passos. Entusiasmado com o trabalho produzido com os alunos da Escola de Sargentos de Infantaria, pelo Tenente Inácio de Freitas Rolim e pelo Tenente Médico Virgílio Alves Bastos, preparados por Pierre de Seguir17, o Ministro Sezefredo determina, através de Aviso Ministerial, providências imediatas para criação do Curso Provisório de Educação Física, anexo à referida Escola.


17. Um dos grandes responsáveis para a realização desse curso foi o comandante do Exército Francês (hierarquia similar a major no Exército Brasileiro) Pierre de Seguir, que assumira a direção da educação física da Escola Militar em 1928. Pierre de Seguir veio em mais uma missão francesa de propagação do método francês e teve grande responsabilidade no desenvolvimento de metodologias para diversas práticas, principalmente de lutas, e na preparação de profissionais para o ministrar de cursos e aulas. Nessas iniciativas, contava muitas vezes com o auxílio do prof. Alberto Latorre de Faria, futuro professor da ENEFD
(MELO, 1996.).

1930-40 Cisnando aprende Jiu Jitsu con Takeo Yano


fuente: Analisando o livro de registros de associados do Centro Esportivo de Capoeira Angola:
http://www.bdae.org.br/dspace/bitstream/123456789/358/5/Amelia_Conrado6.pdf

1988-MUNIZ SODRÉ-Descripción del cuerpo del Capoeirista


A (IN)VISIBILIDADE DA CONTRIBUIÇÃO NEGRA NOS GRUPOS DE CAPOEIRA EM FLORIANÓPOLIS.
Valmir Ari Brito
Florianópolis, outubro de 2005


O sociólogo Muniz Sodré (1988) descreve que o corpo do capoeirista negro ajusta sinergias neuromusculares com imperativo de resistência cultural. É um corpo – assim como aquele que "recebe" o orixá, estabelecendo a comunicação direta entre o sagrado e o profano – sempre aberto enquanto estrutura, capaz de incorporar a dispositivos marciais a alegria da dança e do ritmo (SODRÉ, 1988, p. 214).
O (se – movimentar) no jogo da capoeira não denota apenas a parte física, esses movimentos trazem intrínsecos, sentimentos, sensações, histórias e experiências de vida, que são exteriorizados na roda de capoeira através de movimentos gestuais.
Como diz aquele velho ditado popular, "me mostras com quem andas que eu lhe direi quem és", alguns mestres veteranos afirmam categoricamente, que conseguem identificar, quais são as verdadeiras de um capoeirista na roda, apenas observando o seu estilo gestual de jogar. Segundo Merleau-Ponty (1999, p.18) "o mundo é o que vemos e, contudo precisamos aprender a vê-lo".

1876-SAO PAULO- Escolares jugando capoeira

HISTÓRIA DA EDUCAÇAO DO NEGRO E OUTRAS HISTÓRIAS:
Brasilia 2005
Edições MEC/BID/UNESCO
(Sao Paulo)Em 1876 ,por exemplo, um professor um professor acrescentou ao relatório obrigatório uma longa queixa contra os pais de alunos, não se referindo apenas às dificuldades de fazer com que eles enviassem os filhos à escola, mas também para que reconhecessem o valor da educação escolar. Ele comenta que os alunos não estudavam, preferindo ficar “vadiando”, entregando-se “às piores práticas, à devassidão”:
Tenho sempre ouvido queixas contra o magisterio. É bom que o magisterio opponha tambem algumas aos pais de familia brazileiros, não aquelles pais de boa-sociedade, que conhecem o valor da educação da familia, mas sim ao commum dos pais. Entendem estes, só aquem me refiro, que é bastante mandar os filhos a escola. Com dificuldade dão-lhes o que é preciso. Fazelos estudar em caza as lições passadas na escola, nenhum o faz. Os meninos ahi andão pelas ruas tardes inteiras a correr após um arco de barril, ou adiante de um volante aereo, ou em bandos a jogar capoeira, entregandose desde cedo as devassidões. Eu, por mais que faça, não consigo que um alumno venha para a escola com as lições de Grammatica ou Arithmentica decoradas.Entretanto essas liçoes, que dependen do exercício da memória
devem ser estudadas em casa, só explicadas ou praticadas na escola, para que o tempo, que gastão em decorar, fosse empregado em qualquer outro exercicio. Quanto ao procedimento, todos os alumnos o tem bom na escola. Apenas dois alumnos irmãos que, com quanto não procedão de modo a ser requerida sua expulsão, são invenciveis quanto aos habitos da vadiação e falta de aceio com que se aprezentão na escola
.14
http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001432/143242por.pdf

martes, 5 de enero de 2010

1878-RIO-Capoeiragem gymnástico en Club Gymnástico Brazileiro


COMETARIO DEL ARTÍCULO: del pfr.dtr. Sergio Vieira, ex-presidente de FICA:
"Foi uma tentativa de institucionalização por parte dos órgãos governamentais e pessoas ilústres e influentes da época, assim como da parte de muitos intelectuais. Este movimento veio até os nossos dias com o Prof. Inezil Pena Marinho. "
FUENTE: Revista Illustrada\Ano 4 - 12 de Julho de 1879 - Nº168



Marcílio Dias (o herói da Batalha do Riachuelo, embarcado no "Parnahyba") era rio-grandense e foi recrutado quando capoeirava

foto :Marcílio Dias-http://virgiliofreire.blogspot.com/2009/06/no-dia-de-hoje-ha-144-anos-marinha-de.html
Em 1865 o Brasil, junto com a Argentina e o Uruguai, declarou guerra ao Paraguai.O exército brasileiro formou seus batalhões e, dentro destes, um imenso número de capoeiras. Muitos foram "recrutados " nas prisões; outros foram agarrados à força nas ruas do Rio e das outras províncias; aos escravos, foi prometida a liberdade no final do conflito.Na própria marinha, o ramo mais aristocrático das Forças Armadas, destacou-se a presença dos capoeiras. Não entre a elite do oficialato, mas entre a "ralé" da marujada.
Marcílio Dias (o herói da Batalha do Riachuelo, embarcado no "Parnahyba") era rio-grandense e foi recrutado quando capoeirava à frente de uma banda de música. Sua mãe, uma velhinha alquebrada, rogou que não levassem seu filho; foi embalde, Marcílio partiu para a guerra e morreu legando um exemplo e seu nome.

FUENTE: (Correio Paulistano, 17/6/1890)


Fica para a história a Batalha Naval do Riachuelo, no dia 11 de junho de 1865. Nesta fase do conflito, a esquadra brasileira em combate contra a esquadra paraguaia, agigantam-se de abnegação patriótica o Guarda-Marinha João Guilherme Greenhalgh e o Imperial Marinheiro de Primeira Classe Marcílio Dias – que tanto já se distinguira nos ataques de Paissandú –, imortaliza- se ainda mais nesse dia. Heróis, mártires e defensores da Bandeira
, no convés do vapor “Parnaíba” sucumbem no seu posto de honra, mas não permitem a profanação do Pavilhão Nacional que chegou a ser arriado por um militar paraguaio, mas que diante da coragem dos marinheiros e dos soldados brasileiros, no mastro ficou firme e sereno, apenas sacudido pelos ventos. A tropa inimiga se retira do combate e o Pavilhão é içado novamente. Sobre este fato vale a pena ler o pronunciamento do Deputado Plínio Salgado (ARENA), na Sessão Solene do Congresso Nacional, do dia 10 de junho de 1965, em homenagem à Marinha do Brasil, ao ensejo do transcurso do primeiro centenário da Batalha do Riachuelo que, em um dos trechos, destaca: “(...) Lutam, Caem os bravos oficiais do Exército e da Marinha, um a um, na defesa do pavilhão nacional. É nesse instante que o Guarda-Marinha Greenhaugh e o
marinheiro de primeira classe, o celebre, o famoso Marcílio Dias, se imortalizam: arrancam
das mãos do inimigo as bandeiras, nelas se envolvem, tingem-nas com seu sangue vermelho de patriotismo e sucumbem envoltos no pavilhão nacional. (Palmas prolongadas.) Pouco depois, apesar de toda a tristeza e acabrunhamento pela perda daqueles heróis, eis que estrugem, com alegria, vivas ao Imperador, vivas ao Brasil, vivas ao Almirante Barroso. Que foi? Foi o “Parnaíba” que rechaçou os inimigos, foi o “Parnaíba” que tornou a hastear a bandeira verde-amarela de nossa Pátria! (Palmas.)” O tratado definitivo de paz entre o Império do Brasil e a República do Paraguai só foi promulgado em 27 de março de 1872, através do Decreto
nº 4.910, assinado pela Princesa Imperial Regente D. Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga, em nome do Imperador D. Pedro II.

fuente: A Construção da Democracia(pag 224-225)