FOTO:Agrupamento de sipaios indígenas(Moçambique), e seu comandante europeu, no período colonial.Crédito: Parte de uma foto, autor desconhecido, propriedade de Prof. Henrique Martins.
Em 1760, a guarnição foi elevada para 10 companhias e no ano seguinte para 11.Os soldados chegavam principalmente de Portugal, de Goa e, na segunda metade da centúria, do Brasil, na sua maioria, como degredados. Contudo, os reforços enviados para Moçambique eram, em geral, diminutos e, mesmo procedendo ao recrutamento local, raramente o regimento estava completo.No século XVIII, os portugueses deparavam com dificuldades crescentes para preencher o regimento de infantaria de Moçambique. Não só o Brasil atraía a maior parte dos que saíam de Portugal, como a elevada mortalidade verificada na costa oriental africana contradizia qualquer esforço de completar o exército com reinóis. Desenvolvendo um discurso sobre a inadequação dos soldados europeus ao meio moçambicano, durante a segunda
metade da centúria, a administração da colónia tentou encontrar alternativas no quadro do Índico. As soluções ensaiadas centraram-se, numa primeira fase, no recurso aos cipaios (Sipais) importados da Índia para conduzirem, posteriormente, ao recrutamento para o exército regular de soldados naturais da colónia, nomeadamente dos patrícios, nos Rios de Sena, e dos macuas
e suaílis, no litoral da ilha de Moçambique. Esse processo desembocaria no projecto, formulado na colónia e desenvolvido em Lisboa, de naturalizar o regimento de Moçambique, reservando o oficialato para os europeus. Não obstante, os inúmeros obstáculos levantados ao recrutamento local inviabilizariam a constituição de um regimento completamente preenchido
com gente da colónia. Integrando um longo processo de trocas intercoloniais entre a Índia
e Moçambique, a experiência de recrutamento de cipaios indianos, a que sucedeu a constituição de companhias de cipaios moçambicanos, reflectirse- ia em Moçambique não apenas em termos militares, como também lingüísticos. De facto, a designação de cipaios importada da Índia transitou para os soldados africanos, incorporando-se na terminologia marcial moçambicana. Primeiro, para identificar as companhias de naturais da colónia que integravam o exército regular português, como foi o caso da companhia de macuas e suaílis da Terra Firme. Progressivamente, essa denominação estendeu-se a quaisquer combatentes africanos. As descrições sobre os confrontos militares oitocentistas identificam os combatentes moçambicanos,
tanto os soldados regulares ao serviço do exército português como os que eram mobilizados pelos senhores dos prazos, como cipaios89. As denominações locais para os soldados moçambicanos, como “cafres de arco” e achikunda, foram progressivamente elididas pela nomenclatura indiana.