martes, 29 de diciembre de 2009


FOTO : Agenor Moreira Sampaio, mais conhecido como Sinhozinho, ao centro, e alunos. Ano: 1940 (Paulo Azeredo é o último à esquerda). Sinhozinho, que sempre enfatizou o treinamento de força, foi um grande treinador e formador de campeões na capoeira e em outros esportes no Rio de Janeiro, na primeira metade do século XX. A capoeira de Sinhozinho, também conhecida como Capoeira Utilitária, era uma capoeira voltada para a eficácia como luta, inspirada na violenta capoeira carioca e não era acompanhada por instrumentos musicais.

PINHEIRO, Alisson Bernardo, UERJ/FFP, (aluno de mestrado). Da capoeiragem à academia:
a formação da capoeira moderna no Rio de Janeiro.
Com a Proclamação da República a capoeiragem das maltas vai sofrer um duro golpe liderado pelo chefe de polícia Sampaio Ferraz o “Cavanhaque de Aço”. Durante a primeira metade do século XX a capoeira, no Rio de Janeiro, vai sobreviver de forma mais esparsa. Ela já não se apresenta sob a forma institucional das maltas, que mobilizavam um grande número de grupos, seus principais agentes agora são considerados também “malandros” e atuam de forma mais isolada. De forma paralela houve um esforço de intelectuais, memorialistas, cronistas, folcloristas, de fazer da capoeira representante da brasilidade. Em certa medida amparada pelas penas dos homens das letras outros agentes procuravam passar a capoeira pelo crivo da esportização. Expoente máximo desta prática da capoeira sob os paradigmas do mundo dos esportes internacionais, Sinhozinho (Angenor Moreira Sampaio) ensinava a velha arte da capoeiragem já na década de 1920, em sua academia no bairro de Ipanema (mudando de endereço muitas vezes), junto com outras atividades físicas e esportivas, como levantamento de peso e judô. Era uma espécie de centro esportivo, improvisado em terreno baldio, onde Sinhozinho inventava aparelhos, técnicas, métodos de treino. É importante ressaltar que na Bahia, mestre Bimba, também levaria a cabo um projeto de esportização da capoeira que vai culminar no que ele batizou de “Capoeira Regional”. Há um debate muito interessante sobre a proeminência dos dois personagens na iniciativa de fazer da capoeira um esporte, a “Ginastica Nacional”. Estudiosos como Lopes apontam o papel de destaque que tiveram os manuais de capoeiragem que foram publicados no primeiro qüinqüênio do século XX. Ressaltando o livro de Zuma Bularmaqui, “Gymnastica Nacional, a Capoeiragem”, publicado no Rio de Janeiro em 1928 divulgava a capoeira “utilitária”, “estilo Sinhozinho”, que segundo Lopes e as fontes jornalísticas que nos dispõe teria servido de “fonte inspiradora para a criação da Gymnastica Regional Baiana” de mestre Bimba. Estes manuais teriam sido pioneiros ao propor uma estruturação esportiva para a capoeira, método de ensino com a descrição de cada golpe, cada movimento.
Na chamada “era Vargas” vai se desdobrar um impulso modernizante do Brasil em seus aspectos políticos, econômicos e sociais. Getúlio Vargas e seu governo vão ser determinantes para compreendermos parte do “esquecimento” da tradição carioca na sua re-invenção moderna.
O período Vargas vai se caracterizado pelas ideologias de Estado (trabalhismo e nacionalismo)
onde a população passaria por uma tentativa de modelação. Desde a “morte” da antiga capoeiragem das maltas a capoeira carioca se mantinha nas figuras dos bambas, dos valentões.
Com o Estado Novo a capoeira carioca sofre o golpe derradeiro quando o governo Vargas esportiza a capoeira (1937) e indiretamente eleva a vertente baiana como a “mais pura”.
“A escola de capoeira de mestre Bimba é a primeira do país a ser legalizada e há um incentivo às exibições públicas de capoeiristas baianos, sendo a capoeira incorporada à industria do turismo na Bahia”16 Em contra partida no Rio de Janeiro, o Estado Novo identifica no capoeirista carioca a figura do malandro, avesso ao trabalho. Assim podemos também fazer um paralelo do que para
o Estado Novo seriam as manifestações populares aceitáveis ou não pelo regime: o samba “do
trabalhador” e a capoeira esporte dos baianos, contra o samba e a capoeira (carioca) que enalteciam a figura do malandro. Segundo Reis a “política de valorização moral do trabalho”,
incidiu “diretamente sobre a cultura negra do Rio de Janeiro”. É dentro da “ótica marcadamente
militarista, disciplinadora e eugenizadora que a capoeira se esportizara” sob os auspícios do Estado Novo.


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