MINISTÉRIO DA CULTURA
Fundação Biblioteca Nacional
Departamento Nacional do Livro
A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS
João do Rio
Nota: Em 1908, iluminada pelas primeiras luzes da modernidade, o Rio de Janeiro já se revelava, aos olhos mais sensíveis, como uma cidade multifacetada, fascinante, efervescente na democracia da ruas. Nesse ano, um cronista lança o livro "A alma encantadora das ruas", em que observa, deslumbrado, as novas relações sociais que se desenham no coração daquela seria mais tarde chamada a Cidade Maravilhosa. Seu nome: João do Rio.
...............— Sim senhor. Capoeiragem é uma arte, cada movimento tem um nome. É mesmo como
sorte de jogo. Eu agacho, prendo V. Sa pelas pernas e viro — V. Sa virou balão e eu entrei debaixo. Se eu cair virei boi. Se eu lançar uma tesoura eu sou um porco, porque tesoura não se
usa mais. Mas posso arrastar-lhe uma tarrafa mestra.
— Tarrafa?
— É uma rasteira com força. Ou esperar o degas de galho, assim duro, com os braços
para o ar e se for rapaz da luta, passar-lhe o tronco na queda, ou, se for arara, arrumar-lhe
mesmo o bauú, pontapé na pança. Ah! V. Sa não imagina que porção de nomes tem o jogo. Só
rasteira, quando é deitada, chama -se banda, quando com força tarrafa, quando no ar para
bater na cara do cabra meia -lua.
— Mas é um jogo bonito! fiz para contentá-lo.
— Vai até o auô, salto mortal, que se inventou na Bahia.
Para aquela lição tão intempestiva, já se havia formado um grupo de temperamentos
bélicos. Um rapazola falou.
— E a encruzilhada?
— É verdade, não disseste nada de encruzilhada?
E a discussão cresceu. Parecia que iam brigar.
http://cultvox.locaweb.com.br/livros_gratis/alma_encantadora_das_ruas.pdf
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