jueves, 16 de septiembre de 2010

-Mas é um jogo bonito

A alma encantadora das ruas: crônicas

João do Rio
Companhia das Letras, 1997 - 405 páginas

Em 'A alma encantadora das ruas', reunião de textos publicados na imprensa carioca entre 1904 e 1907, João do Rio percorre as ruas do Rio de Janeiro para reter a 'cosmópolis num caleidoscópio'. A cidade será o palco das perambulações de João do Rio, o dândi para quem o hábito de flanar definia um modo de ser e um estilo de vida.
..............................................Que tem Sussu com a Epifania? Nada. Essas canções, porém, são toda a psicologia de um povo, e cada uma delas bastaria para lhe contar o servilismo, a carícia temerosa, o instinto da fatalidade que o amolece, e a ironia, a despreocupada ironia do malandro nacional.

-Mas por que, continuo eu curioso, põem vocês junto do rei Baltasar aquele boneco de cacete?
-Aquele é o rei da capoeiragem. Está perto do Rei Baltasar porque deve estar. Rei preto também viu a estrela. Deus não esqueceu a gente. Ora não sei se V. S.ª conhece que Baltasar é pai da raça preta. Os negros da Angola quando vieram para a Bahia trouxeram uma dança chamada cungu, em que se ensinava a brigar. Cungu com o tempo virou mandinga e S. Bento.
-Mas que tem tudo isso?...
-Isso, gente, são nomes antigos da capoeiragem. Jogar capoeira é o mesmo que jogar mandinga.
Rei da capoeiragem tem seu lugar junto de Baltasar. Capoeiragem tem sua religião.
Abri os olhos pasmados. O negro riu.
-V. S.ª não conhece a arte? Hoje está por baixo. Valente de verdade só há mesmo uns dez: João da Sé, Tito da Praia, Chico Bolivar, Marinho da Silva, Manuel Piquira, Ludgero da Praia, Manuel Tolo, Moisés, Mariano da Piedade, Cândido Baianinho, outros... Esses «cabras» sabiam jogar mandinga como homens...
-Então os capoeiras estão nos presepes para acabar com as presepadas...
-Sim senhor. Capoeiragem é uma arte, cada movimento tem um nome. É mesmo como sorte de jogo. Eu agacho, prendo V. S.ª pelas pernas e viro - V. S.ª virou balão e eu entrei debaixo. Se eu cair virei boi. Se eu lançar uma tesoura eu sou um porco, porque tesoura não se usa mais. Mas posso arrastar-lhe uma tarrafa mestra.
-Tarrafa?
-É uma rasteira com força. Ou esperar o degas de galho, assim duro, com os braços para o ar e se for rapaz da luta, passar-lhe o tronco na queda, ou, se for arara, arrumar-lhe mesmo o bauú, pontapé na pança. Ah! V. S.ª não imagina que porção de nomes tem o jogo. Só rasteira , quando é deitada, chama-se banda, quando com força tarrafa, quando no ar para bater na cara do cabra meia-lua.
-Mas é um jogo bonito! fiz para contentá-lo.
-Vai até o auô, salto mortal, que se inventou na Bahia.
Para aquela lição tão intempestiva, já se havia formado um grupo de temperamentos bélicos. Um rapazola falou.
-E a encruzilhada?
-É verdade, não disseste nada de encruzilhada?
E a discussão cresceu. Parecia que iam brigar.
Fora, a chuva jorrava torrencial. Um relógio pôs-se a bater preguiçosamente meia-noite. As mulatinhas cantavam tristes:
Meu rei de Ouros quem te matou?
Foi um pobre caçadô.
Mas Dudu saltou para o meio da sala. Houve um choque de palmas. E diante do quarto, onde se confundia o mundo em adoração a Deus, o negro cantou, acompanhado pelo coro:
Já deu meia-noite
o sol está pendente
um quilo de carne
para tanta gente!
Oh! Suave ironia dos malandros! Na baiúca havia alegria, parati, álcool, fantasia, talvez o amor nascido de todas aquelas danças e do insuportável cheiro do éter floral.
A alma encantadora das ruas - Joao do Rio



1882-Aluísio Azevedo "jogo da capoeira"

Título original: Girândola de Amores
autor: Aluísio Azevedo
gênero: Romance
ano de lançamento: 1882
Nº de páginas: 203
.....................Uma semana depois, recebeu dela uma carta. Pedia-lhe que aparecesse. «Ele estava um ingrato; também isso não admirava, porque, segundo o que Olímpia ouvira dizer, Gregório não perdia uma noite do Alcazar, e andava apaixonado por uma francesa. Ela sabia de bonitas coisas a seu respeito!» Falou em certa orgia no Hotel Paris. A carta terminava pedindo ao rapaz que fosse domingo jantar com Olímpia. A viúva Guterres estaria presente e desejava conhecê-lo.

Gregório leu cinco ou seis vezes aquelas palavras.
-Devia ou não devia ir?...
Não foi. Mandou um bilhete, pedindo desculpas, e não apareceu.
Um mês depois, nova carta. Era mais extensa e mais recriminatória; Olímpia queixava-se amargamente do proceder de Gregório e pedia-lhe ternamente que a fosse ver. Ele ainda desta vez não foi.
Entretanto Gregório principiava a ganhar reputação de estroina. Um dos seus companheiros da pândega era o padre Beleza; padre ainda moço e levado da breca. À noite metia-se em roupas seculares, escondia a coroa e atirava-se para o Alcazar, onde floresciam nesse belo tempo as pernas da Aimé. O Beleza era quase sempre cabeça de motim e jogava capoeira como os mais entendidos da matéria. Contavam dele façanhas terríveis. O bispo não conseguia corrigi-lo.

jueves, 9 de septiembre de 2010

1888-Indios Caiangans EN COMBATE SIMULADO ¿XONDARO?

Author: Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (Brazil)

Volume: 51
Publisher: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil : O Instituto
Year: 1888
Possible copyright status: NOT_IN_COPYRIGHT
Language: Portuguese
Collection: americana


Lima Campos localizou a origem da capoeira nos distúrbios da Independência, “pela necessidade do independente, fisicamente fraco [o mestiço brasileiro], de se defender ou agredir o expossessor robusto [o português]”. Negava ou diluía, outra vez, as origens escravas da capoeira, e até reclamava uma origem indígena para a arte:
Creou-a o espírito inventivo do mestiço, porque a capoeira não é portuguesa nem é negra, é mulata, é cafusa e é mameluca, isto é – é cruzada, é mestiça, tendo-lhe o mestiço anexado, por princípios atávicos e com adaptação inteligente, a navalha do fadista da mouraria lisboeta alguns movimentos sambados e simiescos do africano e, sobreudo, a agilidade, a levipedez felina e pasmosa do índio nos saltos rápidos, leves e imprevistos para um lado e outro, para vante e,  surpreendentemente,como um tigrino real, para trás, dando sempre a frente ao inimigo. (L. C., 1906)
A invenção de uma ancestralidade indígena, conforme o modelo romântico
do século XIX, oferecia a vantagem de conferir um caráter mais nobre
(como o bom selvagem da Ilustração setecentista) e mais autenticamente
brasileiro à capoeira. Além do mais, a inclusão de algum elemento indígena
nas origens da arte se enquadra melhor com a ideia fixa de que tudo o que é autenticamente brasileiro provém da mestiçagem entre as “três raças” formadoras. De fato, até o presente há autores que afirmam
que Anchieta ou Martim Afonso de Souza presenciaram os povos tupi jogando capoeira (BRASIL, [1994?], p. 1).
fuente: Antropolítica N iterói, n. 24, p. 19-40, 1. sem. 2008

miércoles, 8 de septiembre de 2010



Libro: Negros bantus ,Autor: Edison Carneiro , Editor: Civilização brasileira, s.a., 1937 , N.º de páginas 187 páginas