lunes, 17 de mayo de 2010

1907-O.D.C.-Guia do Capoeira ou Gymnastica Brazileira,

A CAPOEIRA E O ESPORTE: anotações a partir da sociologia figuracional de Norbert Elias LUCENA, Ricardo de F. – DFE/UFPB – ricoluce@hotmail.com
Na cidade de Recife, por exemplo, esse conceito atribuído à capoeira tinha certa razão de ser. Numa passagem de um trabalho de João Lyra Filho (1973), em que trata da capoeira em Recife, ele expressa o seguinte:


Os partidos de capoeira eram O Quarto e O Espanha. A origem dos partidos esteve na rivalidade entre duas bandas de música, existentes no ano de 1856 – a do 4o Batalhão de Artilharia e a de um Corpo da Guarda Nacional, mestrado por um espanhol chamado Pedro Garrido. Os partidários de O Quarto cantavam: “Viva o Quarto, morra Espanha, cabeça seca é quem apanha.” O apelídio constituía injúria para os rivais, seria o mesmo que os chamar de escravos (p.309).

Devido a isso, durante um longo período do Século XIX, a capoeira esteve mais associada ao crime do que à idéia de ginástica ou esporte. Certo mestre, citado por Miécio Tati, assevera que “a capoeiragem, se pudesse se desprover das intenções criminosas das maltas que a praticavam, talvez chegasse a merecer o rótulo de esporte, com patente do lugar. Não passava, infelizmente, de um exercício físico altamente proveitoso para os músculos – mas que tinha no punhal seu trágico complemento” (Lyra Filho, 1973. p. 310). Mas, já no início do Século XX, começamos a perceber um sentido de mudança. No Rio de Janeiro, no ano de 1907, surge um livreto apócrifo denominado “Guia do Capoeira ou Gymnástica Nacional”, que trazia a seguinte introdução:

Atualmente, o capoeira é representado pelo desgraçado vagabundo, trouxa, cachaça, gatuno, faquista ou navalhista, conhecido por alcunha que lhe garante a maior facilidade de entrada nos xadrezes policiais! Assim é que o maior insulto para inutilizar um jovem é chamá-lo capoeira. Foi, sem dúvida, nosso empenho levantar a Gymnastica Brasileira do abatimento em que jaz, nivelando-a como singularidade pátria, ao soco inglês, à savate francesa, à luta alemã, às corridas e jogos tão decantados em outros países. Nossa briosa mocidade hoje desconhece, pela maior parte, os trabalhos da arte antiga, e por isso nós resolvemos publicar o presente guia.

Observem que o texto mostra a situação do praticante da capoeira, mas tenta re- defini-la como uma ginástica brasileira, ao lado do já famoso soco inglês (ou boxe), o savate e as corridas e os esportes tão conhecidos em outros países e também no Brasil.
http://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais11/artigos/34%20-%20Lucena.pdf

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