lunes, 2 de noviembre de 2009
CAPOEIRA: DE FOLCLORICA PARA UM LINDO ESPORTE NACIONAL
Nação Mestiça: Discursos e práticas oficiais sobre os afro-brasileiros Author(s): Jocélio Teles dos Santos Source: Luso-Brazilian Review, Vol. 36, No. 1 (Summer, 1999), pp. 19-31 Published by: University of Wisconsin Press Stable
URL: http://www.jstor.org/stable/3513987
CAPOEIRA: DE FOLCLORICA PARA UM LINDO ESPORTE NACIONAL
Considerada oficialmente como folclore, a capoeira passou a ser regulamentada pelo Conselho Nacional de Desportos (CND), ligado ao Ministerio da Educafao e Cultura, como esporte nacional em maio de 1973. A partir desse periodo, desencadeia-se, a nivel oficial, seminarios como o realizado no Centro de Convencoes do Instituto Brasileiro de Administracao Municipal (IBAM) do Rio de Janeiro com a finalidade "basica de definir a composigao e a estrategia de acao para um Grupo Tarefa que devera estudar e operacionalizar a institucionalizagao definitiva da arte marcial brasileira", e o Seminario do Piano de Agio Integrada para o Jogo da Capoeira como o objetivo de reformular-se o seu regulamento.18 Esse fato resultou numa burocratizacao, pois o capoeirista para participar dos campeonatos, torneios e confrontos oficiais ou nao, necessariamente deveria estar vinculado a um clube ou associagao filiada a uma das federaçoes vinculadas a Confederagco Brasileira de Pugilismo (CBP) e estar inscrito no Registro Geral dos Capoeiristas do Brasil, pois a capoeira era considerada uma luta "eminentemente brasileira" integrante de uma modalidade desportiva do ramo pugilistico, e seu ensino ou aprendizado seria observado dentro das regras estabelecidas pela CBP. De acordo como o Departamento Especial da CBP, a capoeira era um "desporto de carater amadorista em todo o territ6rio nacional e uma luta que consiste num sistema de ataque e defesa, de origem folclorica, genuinamente brasileira". A leitura oficial do novo esporte nacional implicava er descrever caracteristicas, movimentos, enfim o modo como deveria ser praticado:
sao caracteristicas especiais da capoeira o movimento ritmado, cujo objetivo e de possibilitar que os praticantes se enfrentem ser que a forca bruta, o peso e as distancias deem vantagem a qualquer dos contedores e que tambem um so praticante possa enfrentar mais de um adversario. A movimentacao constante, procurando manter-se a distancia, para nao ser atingido ou golpeado, agilidade, dominio do proprio corpo, riqueza de reflexos e grande senso de equilibrio, sao, tambem, outras caracteristicas da capoeira. A capoeira praticada como desporto de competiçao, consiste num confronto de destreza entre dois oponentes, atraves do desenvolvimento de situacoes e golpes aplicados com os pes, inclusive os auxiliados pelas maos, cabeca e pernas, observadas as limitacoes deportivas que proibem seja posta em perigo a integridade fisica dos combatentes.19
As exigencias da CBP implicava para os associados "uma capoeira limpa", ou seja, um respeito total as leis e regulamentos por ela determinadas; esse fato pode ser observado como "um respeito por conven9oes" (cf. Douglas, 1976), assim como uma oposicao aos que praticavam um outro tipo de capoeira que causasse infracoes, danos, enfim uma capoeira "suja", pois "o consentimento de praticas reprovaveis ou ilegais aviltam a capoeira como desporto e se constituem na destruicao dos esforcos dispendidos por quantos almejarem a sua regulamentacao como pratica desportiva".20 Alem disso, a concepcao de uma capoeira "suja" utilizada pelo CBP relacionava-se corn a origem social de quem a praticava. Segundo Mestre Bimba:
capoeira era coisa para carroceiro, trapicheiro e estivador. Eu era estivador na ocasiao. A policia perseguia um capoeirista como se persegue um cao danado. Imagine so que o castigo que davam a dois capoeiristas que fossem presos brigando era amarrar um pulso num rabo de cavalo e o outro em cavalo paralelo. Os dois cavalos eram soltos e postos a correr em disparada ate o Quartel. Comentavam ate, em brincadeira, que era melhor brigar perto da Policia, pois houve muitos casos de morte nos cavalos. 0 capoeirista nao aguentava ser arrastado, em velocidade, pelo chao e morria antes de chegar a sede de Policia".21
E importante notar que tanto a CBP quanto o CND eram presididos por militares, o que faz ressaltar ao nivel do esporte nacional, uma consonancia de diretrizes tracadas corn a ideologia do periodo autoritario. Um exemplo disso foi a introducao da capoeira na Policia Militar da Bahia (PM-Ba.) como "uma utilidade do meio da defesa pessoal, alem de ser um perfeito sistema de condiçao fisica".22 Ao apoiar a valoriza9ao da capoeira como esporte, a PM-Ba. procurava divulga-la em outros estados brasileiros assim como formar "bons capoeiristas a fim de que este esporte seja difundido dentro de um metodo certo de ensino". Enfim, objetivava acabar com a imagem outrora da capoeira de "esporte de malandro", e, por isso, esperava contar com o apoio "das autoridades e das entidades de classes". A capoeira que saia, na visao oficial, da marginalidade, de luta de negros, para a sacralizacao de "um esporte brasileiro", poderia ser assistida, como competicao, atraves da Academia de Policia Militar da Bahia, em colegios, clubes sociais ou qualquer outro orgao puiblico ou privado, sem qualquer 6nus, pois a meta era divulgar o "lindo esporte". Se o intuito era dar a capoeira um carater de brasilidade, convinha tambem que fosse adotada em outros quarteis do pais, como os da Guanabara e Sao Paulo. Alem disso, o comandante da Policia Militar da Bahia propunha fundar a Federacao Baiana de Capoeira. Para isso seria preciso buscar o apoio do governo federal. A dupla acepcao presente na capoeira, esporte nacional/folclore, pois o Departamento Especial da CBP considerava-a como "um desporto de carater amadorista em todo o territorio nacional e uma luta que consiste num sistema de ataque e defesa, de origem folclorica, genuinamente brasileiro", deve ser compreendido como um continuo de representacoesja elaborados desde o seculo XIX. Como mostra Leticia V. de S. Reis (1993), a apropriacao simbolica da capoeira como esporte nacional ocorre no final do seculo XIX, atraves de folcloristas, militares e escritores no sentido de retirar a sua heranca africana e caracteriza-la como a "gymnastica nacional" resultante da mesticagem racial.
18 Jornal da Bahia, 02 e 03/06/1974.
19 A Tarde, 21/10/1974, Capoeiristas nao sabem que j tem regulamento definido.
20 Ibid.
21 Jornal da Bahia, 27/01/1973, Bimba vai embora por falta de apoio.
22 A Tarde, 21/10/1974, Capoeira na Bahia ja nao 6 s6 um folclore.
fuente: http://docs.google.com/gview?a=v&q=cache:Ktk_af5WE28J:canafro.iglooprojects.org/download/library/politicalr/nacaomesti+Bimba+%22Jornal+da+Bahia%22+27+janeiro+1973&hl=es&gl=es&pid=bl&srcid=ADGEESiNtaxutRpEO4gfxEm2EIthKVwQvNLAof4ulm1c07v6dTA7ElX96KTz7pQqS4X1qCsNTCM3MhMa3zNvKSrgORP4vZy85XcKC4GUCAy16hCn8-uuRlvUu_IUPpcqdhpu00rXSLik&sig=AFQjCNH1tnTJatO2jOijONj46eoANUkfMw
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